Dando continuidade ao meu artigo anterior — “O Design me levou até aqui. Mas foi o código que me fez continuar” — gostaria de compartilhar um pouco mais sobre a minha trajetória e como cheguei a essa decisão.
Meu contato com tecnologia vem da infância, não porque minha família fosse formada por técnicos ou engenheiros, mas sim por curiosos. Meu avô vivia desmontando coisas e fazendo reparos intermináveis. Sempre achei interessante entender como as coisas funcionavam e, quem sabe, tentar resolver os problemas — um exercício de observação constante.
Vamos rebobinar a fita
Minha primeira paixão, antes dos computadores, eram os videocassetes. Eu queria entender como aquela fita magnética — que, contra a luz, parecia não revelar nada — se transformava em imagem (com nitidez precária) nos enormes televisores de tubo. O videocassete era simbólico para mim: um mecanismo complexo que me fazia questionar de onde vinham a imagem, o som, como se gravava e como se apagava. Mal sabia eu que esse sistema arcaico tinha muito a ver com computação, ainda que de forma analógica.
Em meados dos anos 1990, minha mãe adquiriu um computador — já ultrapassado para a época. Um trambolho barulhento, com uma tela de fósforo verde e MS-DOS. Não tinha a fabulosa tela colorida de 256 cores dos 486. Ligar aquela máquina era um evento familiar. Nas raras vezes em que eu tinha coragem (ou oportunidade) de mexer naquele equipamento exótico, digitava os mesmos comandos: dir /p, dir /w e acessava o Carta Certa, um editor de texto brasileiro (sim, nacional!) da época.
Possuir os fabulosos 486 não era uma possibilidade. Ainda assim, minha mãe sempre apostou no meu potencial e me colocou em cursos, tanto de MS-DOS quanto do recém-chegado Windows 95.
Do pesadelo ao insigth
Em 2000, tive meu primeiro computador “viável”: um Compaq K6, com 200 MHz, onde eu podia jogar meus joguinhos. Mas ele era peculiar: tinha vários bad blocks em um HD de 2 GB, RAM precária (32 MB) e só funcionava quando queria. Mal sabia eu que essas limitações, somadas ao meu desejo de entender tudo, me levariam à minha maior paixão: resolver problemas.
Em 2002, fiz um curso de manutenção de micros. Minha dedicação era intensa — beirando o fanatismo. Queria entender absolutamente tudo sobre hardware. Lembro das primeiras manutenções nos computadores de amigos: era a teoria virando prática (e vice-versa). Eu estava certo: queria trabalhar com isso. Mas manutenção de computadores não parecia uma carreira com muito futuro.
Na mesma época, me encantei pelos websites da “fantástica revolução” chamada internet. Descobri que podia entender como funcionavam. Fiz meus primeiros HTMLs no Kit.net, HPG e Geocities. Era incrível fazer algo e acessar de qualquer lugar do mundo.
Oi design!
Percebi que podia atuar de forma gráfica nesse mundo tão vasto da programação visual. Em 2006, consegui uma bolsa de estudos em Desenho Industrial. Durante os quatro anos de curso, me dediquei intensamente. O curso me proporcionou visão espacial, teoria da cor, semiótica, percepção visual e pensamento crítico.
Na minha carreira como designer, atuei com web, marketing tradicional e digital, eventos promocionais e corporativos, em diversos segmentos: pequenos negócios, estatais, saúde, engenharia, varejo e até motéis.
Em 2021, começou a etapa mais desafiadora da minha trajetória: trabalhar em uma equipe de desenvolvimento de software como UX/UI. Era tudo novo. Os jargões e processos de produção eram muito diferentes da minha vivência anterior, baseada em conhecimento ainda teórico na área de software. Muito do que eu conhecia já estava obsoleto, e aprender os novos métodos me deu uma nova visão sobre esse universo.
Trabalhando com automação industrial, comecei a observar os maquinários, sensores, sistemas embarcados e microcontroladores. Isso reacendeu minha antiga paixão por hardware.
Oi sumido!
Em 2024, fiz uma busca intensiva por formações na área de tecnologia: Análise de Sistemas, Sistemas de Informação, Engenharia de Software… Nenhuma delas me motivava. Até que vi Engenharia da Computação. E falei: “É essa. Essa tem tudo a ver comigo.”
Mas o dilema veio: “Já estou beirando os 40 anos. Engenharia tem muita matemática. Sou péssimo nisso. Cinco anos para uma nova graduação? Por que não fazer uma pós?”
Desmontar esses argumentos internos foi o maior desafio. A gente se sabota demais. A síndrome do impostor canta alto nesses momentos de transição. Mas eu pensei: “Por que não? Estou motivado o suficiente. Posso tentar, certo?”
Hoje, estou completando quase um ano de estudos. É uma área vasta, que gera mais dúvidas do que respostas, mas absolutamente motivadora. Ver seu código ganhar forma e perceber como seu pensamento computacional evolui muda a sua forma de ver o mundo.
Acho que nunca estive tão orgulhoso de mim mesmo por tomar essa decisão. Em tão pouco tempo, já consigo ver evolução e compreender que há um longo caminho pela frente — mas estou curioso e dedicado.
E você? Está pensando em mudar de carreira? Ou já está mudando? Conta aí nos comentários, publica um artigo… vamos conversar!