Em 2024, quando tomei a decisão de iniciar uma nova faculdade em uma área diferente da minha formação original, a primeira sensação foi: “Lá vamos nós de novo…” Voltar à rotina de aulas, projetos, apresentações, estudos e dissertações trouxe uma mistura de empolgação e estranhamento — como se eu estivesse começando tudo do zero.

Logo surgiu aquela dúvida: será que não valeria mais a pena me especializar dentro da minha área atual? Algo como um MBA ou uma pós-graduação mais próxima da área que desejo migrar. Assim, eu aproveitaria meu título e me tornaria um especialista, certo?

Bom… certo, mas só até certo ponto.

Dependendo do tipo de especialização, é possível sim ganhar profundidade e deixar de ser um generalista. No entanto, muitas pós-graduações acabam sendo teóricas e generalistas dentro de um nicho, o que pode ser pouco útil na prática. Ou seja, escolher uma pós pode trazer o mesmo dilema da graduação: será que estou, de fato, me especializando?

Duas graduações: recomeço ou expansão

Mas e quando você já tem uma graduação e decide fazer outra? Isso é realmente começar do zero? Minha resposta, baseada na minha vivência, é não. Para mim, essa decisão representa uma expansão de carreira.

Se você é uma pessoa criativa ou com visão sistêmica, consegue enxergar pontos de conexão mesmo entre áreas aparentemente distintas. Um advogado que migra para a educação física, por exemplo, pode unir as duas coisas e se especializar em direito esportivo. Mas… e se essa pessoa simplesmente quiser ser educador físico, sem vínculo com o Direito?

Tudo bem! Conhecimento adquirido nunca se perde. Ele é um patrimônio pessoal, silencioso, mas valioso. Mesmo que você nunca mais exerça a profissão anterior, a bagagem permanece e ninguém tira isso de você. E existe algo que vai além das competências técnicas.

O valor da soft skill

Se a hard skill é aquilo que você sabe fazer (montar um equipamento, desenvolver um layout, argumentar juridicamente), a soft skill é quem você é ao fazer isso: sua comunicação, empatia, adaptabilidade, pensamento crítico, ética, etc.

Soft skills são subjetivas, difíceis de mensurar, mas absolutamente essenciais. E mais: são elas que fazem você único e que recrutadores mais observam em uma entrevista.

Mas então… é mesmo uma transição?

Sou técnico em manutenção de micros desde os 16 anos, já fui instrutor de informática, atuo há quase 20 anos como designer e, nos últimos 5 anos, trabalho com experiência do usuário. Hoje estudo Engenharia da Computação. Dizer que estou “em transição de carreira” é apropriado?

Sinceramente, não gosto muito da ideia de transição como algo que implica em ruptura total. Prefiro enxergar como uma evolução profissional.

A palavra “transição” me dá a sensação de estar em um limbo, como a adolescência, quando você não é mais criança, mas ainda não é adulto. Eu sou designer, e sempre serei. Mesmo que não atue diretamente no futuro, a forma como vejo o mundo é influenciada por essa base.

No meu caso, inclusive, Engenharia da Computação e Design se conectam o tempo todo. Sistemas embarcados, interface homem-máquina, usabilidade… tudo isso é design aplicado à engenharia.

Serei um mega-generalista?

Estou saindo de uma área considerada generalista para outra também abrangente. A dúvida natural é: estarei me tornando um “faz-tudo”?

Acredito que não. Mesmo que eu nunca vá executar todo o processo de um sistema do início ao fim, minha amplitude pode se tornar minha especialização. Ser multidisciplinar é uma vantagem, desde que haja foco e consciência do seu valor.

Um novo significado para carreira

Para mim, transição de carreira não significa abandonar algo, mas agregar. Tornar-se um profissional mais completo, com repertório maior, com visão mais ampla. E isso é valioso.

Não existe o caminho certo. Se existisse, todos fariam o mesmo e o mundo perderia diversidade. Títulos não definem competência. Atitude e dedicação, sim.

Quanto maior o título, maiores serão as expectativas. Mas quanto maior sua postura e curiosidade, maiores serão as oportunidades.

Mesmo com anos de experiência, ainda me sinto começando algo novo. Já me reinventei diversas vezes. Sim, isso é exaustivo. Mas também é a realidade de quem escolheu não viver mais no automático.

A zona de conforto, para mim, é um dos maiores riscos. Se tudo está confortável demais por tempo demais, talvez seja hora de repensar a direção. Falo isso com propriedade. Mas também é importante se respeitar: o excesso de cobrança paralisa. Tome atitudes pequenas, tímidas se for preciso mas tome. A ação, mesmo lenta, é o que move.

Essa decisão não foi impulsiva, nem nasceu de um dia para o outro. Não sou exemplo, nem tenho a intenção de parecer um. Sou um ser humano cheio de medos e receios. E sim, o medo paralisa. Mas não estou aqui para repetir frases prontas de superação, eu odeio isso. Viva o medo. Sinta-o. Mas vá. No seu tempo.

Se você está passando por algo parecido, deixe nos comentários sua história. Talvez, no fundo, todos nós não estejamos apenas mudando de rota estamos, na verdade, tentando nos expandir.

Aproveitando sua boa vontade, se quiser, dá uma lida no meu artigo anterior de nome curioso: “O dilema do pensamento anacrônico”. Abração!

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